28 de novembro de 2007

A cidade adormecida

O silêncio traz consigo impacto e por fim o peso daquilo que não quer calar. Foi este o rumo a que João nos levou durante sua análise do texto. Porém, depois de todos comentários e observações feitos, tornou-se persistente a dúvida sobre o que seria o silêncio já que como citado na aula, ninguém nunca o experimentou puramente.
Durante toda a discussão, ficou claro que pouco ou até mesmo não paramos para lidar com o silêncio: fugimos como se procurássemos agir e não pensar ao certo o porquê dele nos afetar. Um outro questionamento que surgiu após a leitura foi se movimento e silêncio seriam realmente opostos.
No texto é como se existissem dois tipos de pessoas: aquelas que procuram o movimentar-se para que lembranças que as incomodam não caiam sobre suas cabeças, que buscam o novo, insistem em mudanças. E aquelas que movimentam-se mas que simplesmente tem suas vidas suspensas, como se a tentativa de mudanças não lhes fosse clara. Toda uma estrutura descrita do ambiente onde se encontravam as pessoas da suposta terra Dourada nos remete a pensar em um lugar “ fechado”, aprisionante. “... as torrinhas das vigias nos telhados alongavam-se indolentes no céu... os pássaros planando sobre as ruas , na beira dos muros , entre as pilastras, num passeio imóvel e suspenso, pareciam animais multicolores aprisionados num bloco de cristal”.(p.430).
O encontro entre os dois grupos é descrito, e sua reação nos é revelada através da falta de interação entre estes , ou melhor dizendo da forçosa interação. Aqueles que buscavam mudanças deparam-se com aqueles que movimentam-se mas que parecem estar presos aos seus próprios movimentos , não enxergando as demais pessoas ao seu redor. Como comentado durante a aula é como se os que ali já estavam não enxergassem os recém-chegados , mas será que eles mesmos conseguiam enxergar uns aos outros? Ou como já disse anteriormente, estavam apenas presos aos seus próprios movimentos ? Como se o silêncio já os tivessem dominado?
Disse forçosa interação porque apesar das diferenças percebe-se que no fim estes dois grupos unem-se. Parece que aqueles que ansiavam pelo novo são tomados pela falta de perspectiva daqueles que ali se encontravam.
Um outro ponto importante e até mesmo chave do conto seria o Capitão. Em sua fala é como se ele quisesse ou pelo menos tentasse ser neutro, mas é nítido que ele também é afetado por aqueles acontecimentos.No fim do texto ele diz que sai daquele lugar aterrorizado.Será mesmo que ele não tinha lembranças? Ou será que tinha medo de ser tomado por elas? Será que na verdade ele se via como um deles, mas tentava negar a si mesmo ? E que seu navio seria justamente uma metáfora sobre nosso posicionamento a respeito do silêncio, simplesmente fugirmos?
Como todo conto fantástico ele é capaz de intrigar, despertar a curiosidade, mas em momento algum nos faz chegar a uma única conclusão e interpretação.Enfim aí ta um pouquinho do que me chamou a atenção na discussão , leitura do João e da minha própria leitura. E que venham mais interpretações e comentários ! :)