23 de fevereiro de 2008

O Estranho

Como o nome sugere o conto causou um certo estranhamento, talvez tenha sido essa a intenção do autor, fazer com que as pessoas ficassem intrigadas com a leitura e fossem atrás de novas leituras para conseguir dar uma explicação para o aparecimento daquele estranho.
O conto inicia com a aproximação de um estranho a um grupo de exploradores e começa a contar a história de quatro homens. Há trinta anos atrás esse grupo havia explorado esse mesma região e foram atacados por um bando de apaches. Estes estavam na proporção de 10 para 1 então a luta estava fora de questão, porém os quatro exploradores conseguiram fugir e se escoderam dos índios. Essa façanha não teve final feliz, pois depois de três dias escondidos o sofrimento veio à tona e com ele a vontade de suicídio e assim se deu o fim de três dos quatro fugitivos. O estranho era o quarto e escutando a história dele um explorador ficou indignado porque o estranho teve coragem de escapar e deixar os outros morrerem, com isso teve vontade de matá-lo só que o capitão do grupo não permitiu que ele fizesse isso. O capitão e o outro explorador ficaram intrigados com a história contada pelo estranho, pois anos atrás haviam encontrado quatro corpos de homens mutilados. A vontade do explorador de matar o estranho não passou e o capitão responde a isso dizendo que era "totalmente desnecessário; não poderia deixá-lo mais morto".
A última frase do texto causou uma certa confusão na maioria de nós, como assim já morto? Diante da dúvida fomos a mais de uma leitura. A interpretação de Párbata nos permitiu pensar em uma explicação mais plausível a respeito do estranho e sua história. Na verdade todos haviam morrido, inclusive o estranho, com o ataque dos apaches e ele estava ali para contar uma história que fosse possível eles descansarem em paz, que fosse mais honroso para eles. A alma estaria vagando até se convencerem de que poderiam partir.
Fico me perguntando se na realidade isso é possivel, como assim ficar vagando até encontrar a paz? Para mim é muito "estranho", porém existe uma coisa chamada crença, fé que vai muito além de evidências e comprovações. Há quem acredite em vida após a morte e tome isso como um propósito na vida, saber o que fez em outros momentos mais distante e assim buscar explicações para coisas que acontecem no presente. Há quem considere o suicídio mais honroso do que a morte por causa da derrota, há quem considere tudo isso um absurdo, porém não adianta questionar, pois crenças são crenças!

17 de fevereiro de 2008

O notável foguete?!

Começando com uma breve história, o Oscar Wilde teve uma vida bastante intensa que oscilou entre notoriedade com seus contos e livros (o de mais sucesso O retrato de Dorian Gray) e prisão sob acusação de homossexualismo (que também lhe rendeu o livro Balada do Cárcere de Reading). O Wilde era bastante envolvido com as questões sociais e criticava muito a burguesia britânica.
Agora, indo ao conto, nos deparamos com um foguete bastante antipático e presunçoso que vira e volta estava se gabando. Assim como o foguete que parecia alienado, o Rei também o era. Este que tocava apenas duas melodias da flauta sem saber qual delas eram, ainda assim recebia os maiores elogios de toda a corte, pois ele era O Rei. A diferença com o Foguete (notável?) é que os outros fogos também eram alienados em relação a ele, porque por mais que soubessem que ele era um metido mantinham certo misticismo quanto.
Mas o que seria essa alienação? Uma fuga da realidade? Talvez, pois como foi dito: “a realidade é dura”, e é preciso muitas vezes alterá-la para poder atravessar. Sublimar é até necessário, pontualmente, pois quando não só para atravessar o real causa problemas ao indivíduo. Todos buscamos algo notável, mas talvez o que o Wilde - sabe-se lá o que o autor pensara - queira mostrar nesse conto é as conseqüências disso.
E aí veio a pergunta que provocou o silêncio: “será que a gente não é notável?”. Por que não nos identificamos com os personagens do conto? Todos temos um pouco do Foguete e não nos enxergamos de primeira assim. Fazemos as coisas ao nosso redor mais voltado para nos mesmos do que para a realidade e assim satisfazer todos os nossos prazeres (minha vida que é importante). Alguém até citou: “fale de mim, mas fale”.
Assim, nos encontramos em constante produção de ser notável. É até estranho pensarmos, mas parece que essa noção de cuidado de si, de querer ser notável e/ou satisfazer-mos, rompe laços – apesar de bastante necessitados de relacionamentos, nos intimidamos e distanciamos de algo que poderia ser mais firme.
E quem quiser, que conte outra!
Até.

9 de fevereiro de 2008

Sennin

“Sennin: Na mitologia japonesa, o espírito imortal de um santo eremita que vive nas montanhas, capaz de realizar milagres devido aos incontáveis méritos adquiridos através de seu ascetismo.” Essa definição é a chave de todo o enredo fantástico de “SENNIN”.

"Sennin", apesar de ser um conto relativamente pequeno, demonstrou possuir uma boa base para reflexões (dessa vez não necessariamente a morte - alívio para alguns). Determinação, disciplina, a entrega da própria vida por acreditar numa crença, servidão, todas essas palavras foram inicialmente citadas e igualmente fazem parte do conto de Akutagawa Ryunosuke.

O Gonsuke não queria ser igual aos demais; seu objetivo estava em se tornar um "Sennin".

O nome “Gonsuke” (coincidentemente ou não) era o nome pelo qual um importante samurai japonês era conhecido (assim como o Gonsuke do conto, esse não era seu nome verdadeiro). Os trajes utilizados pelo personagem faziam parte da vestimenta tradicional dessa classe de japoneses “guerreiros”, os quais foram posteriormente aderidos à tradição japonesa formal.

vestimenta japonesa

Pulando um pouco as curiosidades vêm algumas colocações pertinentes. Assim como foi discutido na aula, será que Gonsuke já não era Sennin desde o começo? Alguns pontos do conto parecem contribuir para essa hipótese. Assim como a pequena história do Sennin e os carregadores de melão, Gonsuke, primeiramente, conseguiu convencer (ou iludir) o funcionário da agência de ‘COLOCAÇÕES PARA QUALQUER TRABALHO’ a descobrir uma família que o tornasse Sennin, apesar de isso não se tratar de um trabalho. Além disso, ao ser perguntado sobre o motivo de querer tornar-se um Sennin, o Gonsuke explica que mesmo uma vida de luxo não faria de um homem um ser imortal; todos iriam terminar em pó ao final de uma vida de ‘sonhos passageiros’. Esse tipo de pensamento é característico de um Sennin, o qual faz parte da definição acima citada.

O desfecho do conto acontece diante dos olhos do médico e da “Raposa velha”, no topo de um pinheiro, pinheiro este (objeto de contemplação para o médico) que já no início da história aparecia como pista para as respostas de como tornar-se um Sennin.

Pontos interessantes: por que a casa escolhida para “ensinar” Gonsuke a ser um Sennin foi a de um médico (aparentemente não muito bem sucedido)? No que a passagem daquele eremita fez mudar a vida do médico e da “Raposa velha” interesseira?

Por fim, ser Sennin é um feito para alguns poucos ou todos nós poderíamos também ser, a partir do pressuposto que a resposta para ser um Sennin está em valorizar tudo que está ao seu redor, mesmo o que parece ser algo simples, contando que possa lhe acrescentar algo, permitir o aprendizado, estabelecer contato com o novo e proporcionar novas experiências?

1 de fevereiro de 2008

Mais uma vez... "a morte nos persegue!"

Mais uma vez ela vem se manifestar em nossos encontros...
Mas agora um detalhezinho chamou a atenção: aqui ninguém tem medo da morte!
A morte não é evitada, como nos outros textos que a gente viu, mas é encarada com naturalidade. Justamente por ser um evento corriqueiro na vida de nossos personagens, porque eles acreditavam que era possível conviver com os mortos.
A partir daí entramos na discussão sobre o medo da morte, que pra nós ainda é um tabu. E levantou-se a questão de que não temos necessariamente tanto medo da perda dos entes queridos, mas medo de morrer.
Esse fato é expressão do que afirmou Bauman, que as relações são líquidas, ou seja, os indivíduos não estabelecem mais laços tão rijos e duradouros como se observava no passado. Agora as pessoas (indivíduos líquidos) se ligam cada vez mais à materialidade e se distanciam umas das outras.
Também ilustra a tese de Bauman o fato de que já não observamos mais a vivência do luto (medo de ficar sem a pessoa que morreu), da forma como ele era vivenciado nos tempos de nossos avós, quando as pessoas eram mais dependentes umas das outras e pensavam mais na coletividade.
Atualmente, cada um pensa em si, em seus projetos. Não sobra tempo para carregar muitas lembranças ou relacionamentos densos.
Bem, foi mais ou menos isso que consegui "ler" do que foi discutido.